Viço para todas as camélias
O Correio
Tema: Sonhar é preciso
Edição: de 3 a 16 de janeiro de 1998
Para Fréderic Gaussen, o sonho simboliza uma aventura individual. Profundamente alojado na intimidade da consciência, constitui-se, segundo ele, na expressão mais secreta e impudica do ser humano. No entender de Roland Cahen, vem a ser algo capaz de exprimir as aspirações mais profundas do indivíduo. O sonho, há quem afirme, é tão necessário ao equilíbrio biológico quanto o oxigênio ou uma alimentação sadia.
Não só pela simbologia, mas também por suas funções psíquicas, sonhar acordado pode comparar-se ao acontecido durante o sono. O ser humano insiste em seus devaneios. Mesmo sob perspectivas sombrias, repete a cada dezembro: “Ano-novo, vida nova!” Ai daquele incapaz de renovar-se em esperança! Há de murchar feito camélia caída do galho.
Apesar do “pacote econômico”, do El Niño, da insegurança urbana, das armadilhas do destino, revigoro-me em expectativas. Talvez pela proximidade do novo milênio, alimento uma utopia: a de que as pessoas, sem restrições, em todos os quadrantes do mundo, possam viver dignamente. Numa de suas canções, Taiguara sentenciou: “Eu desisto, não existe essa manhã que eu perseguia, um lugar que me dê trégua e me sorria.” Digo-lhe agora: persistir é preciso, há de haver manhãs pacíficas e sorridentes. Lembro mais ao compositor: mais vale adubar quimeras do que virar camélia murcha.