Tom
O Cais
Nº 67
Edição: abril/1997
Seu nome era Airton, mas o conheciam por Tom. Moreno, andava de modo cadenciado, possuía a voz cantada do nordestino (Tom era sergipano). Alguns, só para espicaçá-lo, chamavam-no de baiano. Inicialmente, isso o incomodava. Acabou por acostumar-se com a naturalidade que lhe fora imposta e já não corrigia mais quem assim o classificava. Em Tom, o que mais chamava a atenção era a alegria, a descontração, o riso franco e desabrido.
No verdor da adolescência, eu nutria por ele, mais velho uns sete anos, especial admiração. Era um dos meus ídolos no futebol de praia, à época praticado por craques inquestionáveis.
Certa vez, em tempos de mares despoluídos, caminhávamos pela calçada, ali pela curva da Itapuca, quando Tom começou a cantarolar uma canção de Dolores Duran.
“Hoje, eu quero a rosa mais linda que houver,
quero a primeira estrela que vier…”
Anos mais tarde, Tom mudou-se para Brasília. Fiquei a imaginá-lo naquela cidade sem praias e esquinas. Um dia, soube dele. Acidentara-se gravemente. Paraplégico, passara a locomover-se em cadeira de rodas. Recentemente, deram-me conta de seu falecimento.
Dia desses, em minha caminhada matinal, ao passar pela curva da Itapuca, vi meu amigo Tom no calçadão, o mesmo andar cadenciado. Só não sorria. Ia sério, meio triste. Ato contínuo, Dolores sopro em meu ouvido:
“Há um adeus em cada gesto em cada olhar…” Juro que vi, juro que ouvi…