Retrato sem moldura
Palavras, imagens e sons
Passava as tardes no fundo do quintal, à sombra de uma goiabeira, esculpindo palavras, arredondando imagens que ninguém via, polindo sons inaudíveis.
Um dia vieram buscá-lo. Justo quando um bando de maritacas barulhentas seguia em revoada. Numa camisa de força, imobilizaram-lhe o sorriso.
Continua lá, na clínica, repleta de quintais e goiabeiras. Segundo os parentes, não melhorou nadinha: ainda esculpe palavras, arredonda imagens imperceptíveis, dá polimento em sons que ninguém escuta. No entender de um dos tios, um sujeito pragmático, o caso até se agravou. Afinal, o sobrinho agora se diz poeta…