Retrato sem moldura

Olhos delatores

“Mulher direita não mostra os dentes” – Severo resmungou às vésperas do casamento. Submissa, Íris trancafiou o riso a sete chaves. Na cerimônia de núpcias, foi uma noiva sisuda, bem a gosto daquele a quem se unia.

Dez anos decorridos, havia algo na esposa a embatucar o marido. O mistério se desfez casualmente. Ao desviar a atenção do jornal, Severo deu com os olhos de Íris e os reparou risonhos. Desapontado consigo mesmo por só então haver percebido esse pormenor, aflito com a necessidade de camuflar o despudor da mulher, exigiu-lhe postigos.

Para desaponto de Severo, os olhos da consorte mantiveram-se escancaradamente sorridentes. Não demorou, veio a separação.

Iluminada por um sorriso de plenilúnio, Íris despediu-se de ex-marido. Numa valise de couro cru, acomodou o que houve por bem levar consigo: algumas peças de roupa, seus documentos, meia dúzia de retratos e uma penca de chaves retorcidas.

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