Reflexões em torno de quem cavalga nuvens e mergulha em abismos
O Cais
Nº 48
Edição: julho/1995
Adolescente é feito andorinha, prefere viver em bando. Sozinho, não faz verão! Isso se evidenciou, por exemplo, quando os caras-pintadas saíram às ruas. O autor da ideia jamais ornamentaria solitariamente o rosto com traços e tintas. É também dado a modismos e não gosta de parecer diferente do grupo que frequenta. Conheço um que poetava com enorme competência. Ao perceber-se em destaque, estranho no ninho, nunca mais versejou. Talvez volte a fazê-lo mais tarde, já adulto, quando deixar de ser andorinha.
Entre os adolescentes, as coisas acontecem rapidamente: o bar, a discoteca, o ponto na praia, a butique, o corte de cabelo, o traje, tudo, enfim, tem combustão espontânea. O “incêndio”, porém, não se sustenta. Adolescente é bombeiro! Hoje o barzinho fervilha, gente pelas calçadas, casais encostados nos automóveis, que as mesas são poucas para abrigar toda a galera. Não demora, passa a ser tremenda caretice frequentar o local. O bar da moda mudou! Ali não se azara mais! Adolescente é assim: dono de si e inseguro, eufórico e entediado, ousado e tímido, irreverente e submisso. Depositário de risos e lágrimas, sonhos e desapontos, esperanças e frustrações. Senhor de grandes verdades e de enormes incertezas. Capaz de cavalgar numa nuvem e de mergulhar no abismo mais profundo.