Por debaixo do pano
O Correio
Tema: O mundo da diversão
Edição: de 4 a 17 de março de 2000
Na Grécia e na Roma antigas, os jogos aconteciam em festas religiosas. Contribuíam para cristalizar o civismo, o sentimento de nacionalidade. Na África, jogos funerários acompanham o cortejo fúnebre. Exuberantes, rápidos, brutais, objetivam dissipar uma atmosfera opressiva e restabelecer a ordem natural das coisas.
Alguns jogos, certos folguedos, cercam-se de simbolismo: subir no pau de sebo liga-se à conquista do céu; empinar papagaio (pipa) significa, no Oriente, expor a alma aos remoinhos das correntes aéreas; pular amarelinha faz lembrar os labirintos.
O jogo ativa a imaginação, estimula a emotividade. A brincadeira conduz aquele que nela se envolve a um mundo de magia e encantamento. Daí a seriedade com que as crianças jogam e brincam.
Os jogos acabam por representar estilos de épocas, pois se inspiram nas exigências temporais. Simbolizam, em suma, os interesses do período em que estiveram em evidência. O Banco imobiliário, assim como o Monopólio, por exemplo, refletiam um tempo em que saber lidar com o dinheiro, com os investimentos, demonstrava sagacidade. Atualmente, os jogos eletrônicos anunciam uma outra forma de ver a vida, mais ligada às proezas tecnológicas. O universo da diversão, portanto, não é assim tão ingênuo. Em sua essência, por debaixo do pano, camufla-se toda uma carga de segundas intenções.