Parteiro de flores e versos
O Cais
Nº 96
Edição: dezembro/1999
Há 87 anos, diz a lenda, o pássaro-da-vida deixou um bebê numa cidade da antiga província do Rio de Janeiro. Voltou ao céu, ensaiou uns volteios, voou para outro local e fez pousar mais um pequenino. Para saborear a satisfação de haver trazido ao mundo os dois viventes, aninhou-se em lugar incerto e não sabido.
Lenda de lado, no dia 29 de março de 1912 nasceram Carlos Tortelly Rodrigues da Costa e Luís Antônio Pimentel. Em Bananeiras, povoado de Itaperuna, o primeiro. O segundo, duas horas após, em Miracema.
Vieram morar na taba de Arariboia. Ambos foram eleitos para a Academia Niteroiense de Letras. Em 1991, Luís Pimentel foi agraciado pelo Grupo Mônaco de Cultura com o título de “Intelectual do Ano”. Oito anos decorridos, Carlos Tortelly também o foi. Como se pode depreender, o destino vem abrigando a dupla nas malhas da mesma teia.
Tortelly formou-se em Medicina nos idos de 1936 Especializou-se em Ginecologia e Obstetrícia. É comum vê-lo apontar para alguém nascido em suas mãos e comentar carinhosamente: “Mais uma flor do meu jardim…”. Faz algum tempo aposentou-se. Agora parteja versos. Faz da trova seu canto de fé e esperança, porto seguro e ponto de partida. Sempre que a dor o atinge, não se lastima nem blasfema. Paramenta-se de trovador e faz nascer um alento. Da mesma forma pela qual trazia à claridade uma criança, ilumina as palavras. Instituído há doze anos, o título de “Intelectual do Ano” foi comemorado com almoço festivo até 1997. A partir de então, a outorga tornou-se menos solene. Carlos Tortelly será agraciado com a honraria no “Calçadão da Cultura”, à porta da Livraria Ideal, sem a pompa dos muitos garfos. Na manhã de 18 de dezembro, quando 1999 já estará fazendo as malas, irei abraçar o amigo, parteiro de flores e versos.