Palmas para o goleiro
O Cais
Nº 103
Edição: setembro/2000
Dia desses, na Livraria Ideal, estive com Marcos Gomes. Na ocasião, o secretário de Cultura do município de Niterói não tratou de trâmites burocráticos, de tombamentos, de assunto algum ligado a sua pasta. Descontraído, falou de futebol. Mais precisamente a respeito de goleiros, pois está alinhavando um livro em torno de alguns desses polêmicos personagens, os que não podem falhar. Afinal, implacável, sádico, o fundo da rede os espreita.
Por falar em goleiros, certa manhã, na praia de Icaraí, observei o treinamento de uma dessas escolinhas (futebol se aprende na escola?). Em fila indiana, meninos entre oito e dez anos presumíveis, após ziguezaguearem entre meia dúzia de estacas fincadas na areia, tinham que cabecear, em direção à baliza, as bolas alçadas pelo “professor”. A cada balançada de rede, aplauso para o autor da façanha. Quando o goleirinho defendia, palma nenhuma.
Numa de suas crônicas, Armando Nogueira observou que, na “Calçada da Fama”, no Maracanã, somente pés foram impressos. Com muita propriedade, indagou: “Onde estão as mãos que detêm sua presa, a bola, com destemor e estilo?”.
O gol, sem dúvida, representa o momento maior em uma partida de futebol. Sendo assim, evitá-lo há de ser o anticlímax. Talvez seja isso: o goleiro não passa de um desmancha-prazeres!
Pelo que percebi em nossa conversa descompromissada, Marcos Gomes não pensa assim. Tem pela figura do goleiro especial afeto e sincera admiração. Desde já, penso em adquirir três exemplares do futuro livro. Um para meu deleite, outro para enviar ao “professor”. Quem sabe, a partir daí, ele passe a estimular também os goleirinhos? O terceiro será destinado ao administrador do Maracanã, sugerindo-lhe que mãos também sejam impressas na “Calçada da Fama”. Infelizmente, Moacir Barbosa já faleceu. Homenageá-lo seria redimi-lo de meio século de incompreensão e injustiça. Desde que, numa tarde fatídica, ele não deteve o chute malicioso daquele uruguaio pequenino e narigudo. Mas, outros goleiros aí estão, vivos e merecedores de espalmar as mãos na calçada gloriosa.