Os viageiros do meu viver

O Correio
Tema: Encontros
Edição:
de 15 de junho a 14 de julho de 2002

René Armand Dreiffus dedicou seu livro, 1964: a conquista do Estado, aos amigos que o caminhar da vida afasta, mas a lembrança reúne. Dreiffus sintetizou sensação frequente em meu pensamento: a de recordar aqueles que, por motivos vários, de mim se distanciaram. Volta e meia, me pego a relembrá-los. Porém, não o faço melancolicamente. Na verdade, a relembrança adquire doçura. Para que tal aconteça, pilotando imaginária máquina do tempo, pouso na plenitude de momentos já vividos, no que deles permaneceu. Rever álbuns de retratos serve de passaporte para tais viagens. Há quem não goste de fotografias por entendê-las carcereiras do passado. Penso justo ao contrário, vejo-as capazes de libertá-lo.

Quando em vez, me indago: em que imensidão se perderam amigos de infância, musas, professores, colegas de bancos escolares e tanta gente mais, viageiros do meu viver?

Em certos momentos, sinto-me impelido a convocar meus ausentes por meio de mensagens telepáticas. Todos seriam bem chegados: os da infância, os da adolescência, os da fase adulta; os do colégio, os do quartel, os da faculdade; os das ensolaradas manhãs praianas; os que comigo compartilharam a magia do futebol; os da metrópole e os da cidadezinha; os que encontrei na andança e aqueles dos quais me desencontrei; os que me provocaram o riso e os que me levaram ao choro; quem me fez desejar e obter, assim como ansiar e não conseguir; os que me rejeitaram, numa boa, e quem, numa ótima, me aceitou sem ressalvas. Viriam todos, indistintamente, para mágica ciranda. Afinal, Vinícius de Moraes já dizia: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. P.S. Hoje, aposentado, convocaria também aqueles ao lado dos quais exerci atividades profissionais.

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