O carteiro, o poeta e o matador eletrônico

O Cais
Nº 57
Edição:
maio/1996

Il postino (O carteiro e o poeta), filme de Michael Redford, trata da relação de amizade entre Pablo Neruda e um simples carteiro, quando do exílio do poeta, na década de 1950, numa pequena ilha italiana habitada por pescadores. Philippe Noiret, sósia de Neruda, e Massimo Troisi, o carteiro, esculpem os personagens com o cinzel do afeto. Os coadjuvantes, sem exceção, interpretam magnificamente seus papéis. A história, misto de realidade e ficção, faz sorrir e chorar. Sorrir ilumina o espírito, chorar lubrifica a alma. Massimo Troisi, à época das filmagens, sofria de grave doença cardíaca. Entre a cirurgia, urgente e arriscada, e o término do trabalho, optou por concluí-lo. Faleceu pouco depois de arrematar a última cena. O filme constitui-se, sem dúvida, num momento maior da sétima arte.

Saí do cinema, situado em um shopping, absorto em contemplação. Enquanto percorria o templo do consumo, pensava na ilhazinha italiana, exílio de Neruda. Eis que dei de cara com o adolescente bem nutrido, paramentado com roupas da moda, a duelar com a eletrônica. Parecia orgulhoso. Afinal, derrotava o inimigo. Era mais ligeiro do que os oponentes enraivecidos que a máquina vomitava na tela. Fulminava-os todos com a pistola de raios flamejantes. Senti desejo de retornar ao cinema e assistir novamente Il postino, pleno de sensibilidade e ternura.

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