Noturno em mi bemol & outros contos ligeiros

O fim de semana da velha senhora

O tem resfolega e para. O atrito das ferragens deixa escapar um gemido. Há uma névoa forte, o que confere um ar de tristeza à estação. As poucas pessoas na plataforma, em meio ao nevoeiro, parecem fantasmas. Mais tarde, quando o Sol der as caras, o dia há de ficar bonito, temperatura amena. Por enquanto, seis da manhã, faz frio.

A velha senhora retoca a pintura, passa o pente nos cabelos brancos, puxa a gola do casaco antes de abrir a janela do vagão. Sente a friagem da manhã em seu rosto. Força os olhos míopes. Lá estão eles. Os quatro. Vieram todos: a filha, o genro, os netos. O fim de semana há de ser admirável!

A velha senhora tem os olhos marejados, mas consegue segurar as lágrimas. Ao saltar, vem feliz, sorridente. Beija a filha, o genro, os netos. Caminha com eles pela plataforma, esperançosa pelo Sol que não há de tardar.

A velha senhora está de volta à estação. Foi, como previra, um fim de semana admirável. Beija os netos, o genro, a filha. Caminha com eles pela plataforma, temerosa da noite que se avizinha. Ao embarcar de retorno, tem os olhos marejados e não consegue segurar as lágrimas. Vai pensativa. Foram todos muito profissionais, inclusive as crianças. Precisa dizer isso, na agência de dublês, quando for completar o pagamento.

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