Forca de seda

Divagações em dia de romaria

Assim meus finados, em nada confinados. Pelo que, mais que nunca, vivos estiveram nesse dia de choros (des)afinados. Não lhes levei flores nem luzes de velas. Ao invés, antigas cantigas de amenas cirandas. Mudas palavras eles disseram aos meus ouvidos.

Menino, ouvi que puxavam pernas, que assombravam. Felizmente, quando pequeno não os tive.

Imortais, meus mortos. Em voláteis fardões, recitam poemas silenciosos e bebem a brisa da tarde em chávenas invisíveis.

Ao partirem para o mistério, vão-se cônscios de que tal não se deu inteiramente. Sendo assim, me acodem na angústia e na efusão, pois se uma fere, a outra inebria. Provocam lágrimas e apagam sorrisos quando chorar alivia e o riso é descabido. Quando não, fazem justo o contrário: secam o choro e acendem sorrisos. Na alegria, lá estão, a cirandar. Na tristeza, pousam em meu ombro mãos de nuvem. Nas vitórias, dosam a vaidade. Nas derrotas, ensinam-me coisas.

Assim meus mortos: mágica plateia a me observar, enquanto busco o equilíbrio em invisível corda bamba. Não me negam aplausos nem de apupos me poupam. Permanecem fiéis, mesmo que não lhes leve flores nem velas lhes acenda.

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