De quando o cronista não ouve a resposta e se intromete a tecê-la

O Cais
Nº 51
Edição:
outubro/1995

No burburinho do Calçadão da Cultura, alguém indagou de Paulo Cecchetti: “Por que O Cais?”

Não ouvi a resposta. No Calçadão, as conversas fervilham paralelamente. Às vezes as linhas se cruzam…

Dia seguinte, domingo cinzento, desses sonolentos, indício de chuva fina, carpideira, atrevi-me a responder pelo editor sem autorização prévia. Cais, minha senhora, é lugar de idas e vindas, partidas e regressos, abraços e acenos, agito e solidão, trabalho pesado e leveza de cruzeiro. Por ele transitam coisas e gentes de lugares os mais diversos. É pousada para as embarcações suarentas de maresia e local de onde elas partem novamente, revigoradas, para enfrentar mistérios. É berço de alvoreceres e crepúsculos, bruma e claridade. Enfim, cara senhora, é tanta coisa que nem sei. Afinal, não sou marujo. Apenas alguém debruçado à beira do cais, apreciando o voo das gaivotas. Creio que Cecchetti acertou em cheio ao dar a esta publicação cultural nome tão sugestivo. Concorda comigo, senhora?

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