De individualidades preservadas à incredulidade do meu zíper
Castelos
Os passos afundavam-se no lençol branco deixando uma esteira de pequenas marcas. A continuidade do vento fazia com que o Sol transmitisse uma quentura suportável. De repente, o menino desviou-se da rota, guinou para a direita. Quando sentiu as areias se umedecendo, parou. Naquele dia, o mar era um amante calmo, acariciando a praia-mulher em idas e vindas ritmadas, murmurando juras de amor na linguagem das águas.
O menino sentou-se. Alheio às carícias, começou a cavar. Não precisou muito para que a água minasse. Foi quando surgiu a ideia do castelo e era um menino imaginativo. Pensou em tudo: torres, escadas, pontes, passagens secretas e até um fosso onde jacarés de graveto rondariam ameaçadores.
Concluído o castelo, a próxima etapa seria habitá-lo. Depois de muito meditar, houve por bem deixar como estava. Afinal, não conhecia ninguém da sua idade que tivesse conseguido realizar tal façanha.
Mesmo desabitado, ali estava. Os alicerces, fortes. As torres, buscando as alturas. Ao olhar para o mar, entristeceu-se. A maré subia… Ante o inevitável, passos arrastados, sem olhar para trás, afastou-se daquilo que construíra com tanto esmero, agora prestes a desmoronar.