De individualidades preservadas à incredulidade do meu zíper

Vinte anos depois

Vinte anos depois daquela noite no clube, encontrei aquela com quem fui para a varanda tencionando iniciar namoro. Tinha casado e descasado. Botara dois filhos no mundo. Possuía, ainda, olhar indecifrável e corpo provocador.

Fiquei sabendo que, por falta de insistência, eu deixara de lograr intento. Que havia virado gato. Em represália à minha falta de empenho, rebatizara com meu nome seu bichano de estimação. Crio ter sido mesmo na bronca: o felino era castrado…

Conversamos bastante. Coisas a relembrar, outras a revelar. Ela havia corrido mundo, conhecido outras paragens. Já eu, ficara mesmo no porto, atrelado às pedras do cais. Falamos de acertos e desacertos, de vitórias e derrotas, de coisa muita, enfim. Ora era a mulher madura quem se pronunciava, ora a jovem que um dia ela fora assumia o comando.

Perdi novamente o paradeiro daquela com quem fui para a varanda na tentativa de iniciar namoro. Não sei por onde anda. Se voltou a correr mundo ou se vive por perto. Hoje acordei pensando nela, lembrei-me de algo que ela me disse na noite do reencontro: “Sabe, cara, quem bolou tudo isso falhou na cronologia. As coisas acontecem quase sempre fora de época e os frutos só devem ser colhidos quando maduros. Nem antes nem depois…”.

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