Dança das cadeiras
[…] O destino das academias de letras é o de guardar, para transmitir às gerações futuras, engrandecidos e belos, os frutos sazonados que os homens colhem na árvore frondente da inteligência e do espírito
E é interessante notar que, tendo as suas raízes afundadas na terra fertilizadora do passado, os seus galhos vão dobrar-se sobre o futuro, ligando assim os dois extremos de estações tão distanciadas, numa aproximação benéfica de idades.
Será isso, talvez, um desafio à eternidade, um formar de cadeias que se multiplicam, o espírito de solidariedade entre as gerações que se substituem e se revivem umas nas outras, sob a cúpula eterna das letras. […]
(Trecho do discurso de Myrtharístides de Toledo Piza, primeiro presidente da ANL, na solenidade de instalação da Academia)
– Página 55 –
[…] O telefone tocou em minha residência. Do outro lado da linha, a voz cansada de Jacy Pacheco fez-me um apelo. Solicitava-me que o conduzisse à sede da Academia Niteroiense de Letras. Queria vê-la mobiliada, equipada para as lides acadêmicas. […]
[…] O casaco de lã dançava no corpo magro do poeta, os óculos bifocais pareciam haver aumentado de tamanho. Jacy, com visível sacrifício, esforçava-se para manter a postura empertigada de outrora. Seus olhos estavam tristes. Foi com dificuldade que se acomodou no automóvel. Cumprimento-me. Agradeceu-me por antecipação. Sorriu. O curto trajeto entre sua casa e a sede da ANL foi percorrido sem que trocássemos muitas palavras. Quietos, dissemo-nos muito mais. Girei a chave na fechadura, empurrei a porta, entramos. A antessala, a secretaria, a sala de reuniões (onde ficava a biblioteca), o pequeno auditório, o banheiro. Embevecido, Jacy percorreu cada cômodo. Seus olhos agora brilhavam. Murmurou:
— A sede… finalmente a sede…
Então o poeta chorou. Choro de lágrimas escorridas, sem soluços, silencioso. […]
– Páginas 108/109 –
Epílogo
Este livro registra o que pude consultar e ouvir a respeito da história da Academia Niteroiense de Letras (ANL) desde sua fundação, ocorrida no dia 11 de junho de 1943, até setembro de 2000. Não é o relato mais completo em virtude de muito se haver perdido na ausência de anotações, na incompletude dos arquivos, nos desvãos das recordações. Fica-me a expectativa de que, dentro do possível, tenha realizado um trabalho capaz de contribuir para a preservação da memória cultural da cidade de Niterói.
– Página 410 –