Da placenta ao oceano

O Cais
Nº 74
Edição:
novembro/1997

Abrigar por nove meses o ser em gestação cria sentimento de posse. O corte do cordão umbilical rompe a dependência plena. Portanto, parto envolve perda. Ao parir, adeus exclusividade, o filho passa a pertencer ao mundo. Costuma-se dizer que a mãe ganhou neném. Tenho lá minhas dúvidas…

Liberar o filho para um mundo sabidamente hostil gera angústias e medos. Vem daí, certamente, o abnegado amor materno, capaz de conduzir às sofrências paradisíacas referidas por Coelho Neto (“Ser mãe é padecer no paraíso”). Amor de mãe é abrangente, tem pernas de centopeia e mil tentáculos. Lembra, também, rio caudaloso em tempo de muita chuva, a transbordar pelas margens. Quando o filho, subitamente, desaguar na imensidão do oceano, pobre mãe de água doce. Perderá noites de sono pressupondo maremotos.

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