Chegança

Apologia da solidão

Em meio à multidão,
diluído na incerteza dos conflitos,
respirando angústias,
deixo de ser eu mesmo para ser todos.

Em meio à multidão,
perco a unidade,
ganho alma urbana.

Em meio à multidão,
absolvo
se aquele olhar me pareceu sereno,
condeno
se aquela voz não me agradou.

Em meio à multidão,
aprecio,
repudio,
admiro,
menosprezo,
aponto desapontos.

Em meio à multidão,
deixo de ser alguém.

Estando só, reintegro-me.
No isolamento, volto a ser gente.
Na solidão, sou todos
sem que precise ser alguém.

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