Breves reflexões sobre o tempo

O Cais
Nº 134
Edição:
julho/2003

Fosse bicho, seria misto de felino e ave de rapina, pleno de desfaçatez e voracidade. Talvez um gato provido de garras e bico adunco, ora a se espreguiçar, ora a voar veloz em busca da presa. Se vegetal, planta carnívora, ardilosa e devoradora. Pertencesse ao reino dos minerais, haveria de ser, por certo, areia movediça.

Para tecer suas teias, esculpir suas marcas, age nas sombras, nos desvãos, nas frinchas. Quando em vez, tem efeito curativo. Ainda assim, sempre deixa cicatrizes. Dúbio, ora espicha, ora encolhe. Às vezes se esvai rapidamente, quando melhor seria que assim não fosse. Em determinadas circunstâncias, justo ao contrário, demora uma eternidade, embora o desejássemos fugaz. Assim é o tempo, esse algoz camaleônico. Ou há de ser, conforme Cristóvão Bastos e Aldir Blanc o classificaram, “uma eterna criança que não soube amadurecer?”.

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