Beijo de língua

Metamorfose

Ubaldo habituou-se a capturar palavras. Busca surpreendê-las em estado bruto, fora da frase, tão somente palavra. Gosta de tê-las na concha de sua mão. Não pensem mal de Ubaldo, ele não maltrata os vocábulos. Lida com eles como se acariciasse pássaros.

Certa vez apropriou-se da palavra ventania. Por um par de segundos, não mais que isso, foi capaz de mantê-la em quietude. Num repente, ela escapou e meteu-se, sibilante, num compêndio de sonetos.

Dia desses, Ubaldo abriu o livro no qual a ventania se abrigara. Passou a tarde entregue à leitura de uma centena de poemas de versos livres.

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