Beijo de língua
O almofadinha
Desde rapaz, quando começara a trabalhar num escritório de austeros advogados, usava terno. Inclusive colete, sem o qual, no seu entender, o traje ficava capenga. Nos finais de semana, ansiava por um evento qualquer a exigir passeio completo. O terno, enfim, transformara-se, para ele, numa segunda pele. Fosse possível, tomava banho trajando o de linho branco, o mais leve de todos. Jamais perdoara a companheira havê-lo abandonado justo pela proposta que ele lhe fizera: sexo a rigor – ela de longo, ele de fraque e cartola.
Naquela noite, chegou exausto do trabalho. Dispensou a chuveirada, sequer se alimentou. Jogou sobre a cama os sapatos de cromo alemão, as meias de cetim, a calça impecavelmente vincada, o cinto, o paletó bem talhado, as abotoaduras, a camisa social, a gravata de seda pura, a cueca. Depois, abriu o armário, escolheu o cabide mais confortável e pendurou-se nele para um sono reparador.