A bordo de caravelas virtuais (*)
O Correio
Tema: www.narededainternet.com.br
Edição: de 27 de maio a 9 de junho de 2000
Na década de 70 dos anos 1900, Lauro de Oliveira Lima acreditava não tardar o surgimento de ampla rede de comunicação ultrarrápida, que colocaria imediatamente disponível quantidade variada de informações. Pouco depois, o computador corroborou o vaticínio do autor de Mutações em educação segundo McLuhan. A internet tornou a informação cada vez mais acessível.
Há, em Psicologia Social, o conceito de que ninguém informa ninguém. Na realidade, o indivíduo se informa. Não é paciente, mas agente do processo. Nada mais compatível, portanto, do que o inter-relacionamento da máquina com o intelecto. O saber planetário instantaneamente disponível democratiza o conhecimento, encurta distâncias, amplifica o saber. O usuário da internet tem a seu dispor a mais diversificada gama de informações. Tanto pode acessar a celebração do Ângelusdominical, diretamente do Vaticano, como ocupar a tela com uma sessão de pedofilia.
Existe quem acuse a rede de tornar as pessoas ansiosas, mas há quem a perceba capaz de diminuir a solidão, os estados depressivos. O psiquiatra Henrique Del Nero vê por detrás do encantamento de navegar na telinha, perigo iminente – a ansiedade informacional: o indivíduo deprime-se, diminuído perante tanta informação. Do que discorda a psicanalista Leny Mrench: “Quem apresentar tal distúrbio psicológico já o possuía anteriormente”. Os dois divergem em outro ponto: para Del Nero, o uso constante da internet pode intensificar a relação com a máquina em detrimento das relações humanas. Já Mrench crê no estabelecimento de vínculos pessoais estreitos, de relações afetivas.
A ter razão o psiquiatra, navegar na internet implica riscos de se topar com icebergs e procelas. A psicóloga, por sua vez, mira-se no lema da Escola de Sagres, retomado por Fernando Pessoa: “Navegar é preciso!”
(*) Este texto, publicado na edição de 16 a 30 de abril de 1999, foi republicado nesta data com algumas alterações.