Da arte de bem escrever e de bem falar
O Cais
Nº 52
Edição: novembro/1995
O Brasil, país continental, possui idioma único. Algumas poucas palavras são peculiares a determinadas regiões, não mais que isso. Na Itália, por exemplo, significativamente menor em termos territoriais, há vários dialetos, o que, sem dúvida, dificulta a comunicação.
De tempos em tempos, é verdade, surgem grupos que dizem coisas só por eles assimiladas, os integrantes da tribo. Funkeiros e surfistas são mestres no assunto. Mas a língua pátria, rica e expressiva, não chega a ser ameaçada. Permanece como fator de unidade nacional.
Ressalte-se outro aspecto: a gramática jaz esquecida. Assim me parece, mesmo nos jornais de grande circulação. Talvez por haverem dispensado os revisores, aqueles que se debruçavam sobre as matérias, preocupados em corrigir inadequações. O computador não os substituiu à altura.
Igualmente contribui para empobrecer o idioma a síntese excessiva, tão característica à fala dos adolescentes.
“O que achou do filme?”.
“Legal”. – Responde, lacônico, o jovem. E dá os trâmites por findos.
Conheço um que, de tão sintético, ao ser convidado a escrever sobre religião, nobreza e sexo, reduziu o texto a uma única frase: “Meu Deus, disse a princesa, que bom!”.
Já reparou, leitor, nas placas de trânsito? Nas de obras governamentais, pousou os olhos? Tem observado as privadas? (refiro-me às placas). Não agridem constantemente o vernáculo? Quanto à gíria, contribui, em determinadas circunstâncias, para a expressividade da frase, é verdade. Moderação com elas, porém. Não percamos de vista a necessidade do domínio da variante culta e da ampliação vocabular. Haverá situações, e não serão poucas, em que isso será necessário ao indivíduo, como codificador ou decodificador de mensagens, nas diversas áreas do conhecimento. Vai daí, não é prudente que se descuide do bem escrever e do bem falar.