Pinga-fogo

O Cais
Nº 126
Edição:
outubro/2002

No carrinho de bebê, trajando as cores pátrias, o pequenino sacudiu pernas e braços, como se comemorasse um gol da seleção brasileira. Havia um sol ameno e a equipe de Felipão classificara-se para as quartas de final. Orgulhosa, sorriso a lhe iluminar e o rosto, a vovó dirigiu-se ao netinho, como se ele fosse capaz de entendê-la: “É a sua primeira Copa!”. Fiz a contas e verifiquei estar na minha décima quarta… Quantas ainda terei?

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As duas senhoras conversavam animadamente. Dado momento, a de cabelos cor de cobre, rosto de boneca de porcelana, arrematou: “O importante, amiga, é envelhecer sem perder a identidade!”.

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Na entrada de um centro comercial da Barra da Tijuca, impávida, uma réplica da Estátua da Liberdade simboliza a subserviência cultural que nos assola. Mais adiante, no Recreio dos Bandeirantes, reina solitária a Casa do Pontal. Nela, abriga-se a maior coleção de peças do artesanato brasileiro, iniciativa do francês Jacques Van de Beuque.

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Ponha-se de lado o eufemismo. Terceira idade é velhice mesmo, cada vez mais digna e atuante. Por outro lado, proponho uma revisão. Afinal, no meu entendimento, a ordenação numérica a colocaria em quinto lugar. Antes dela há o período intrauterino, a infância, a adolescência e o tempo da carteira assinada (na medida do possível). Só então viria a velhice. Por fim, para quem chegar até lá, a decrepitude.

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Em seu programa de entrevistas, Jô Soares, quando em vez, divulga respostas estapafúrdias de vestibulandos despreparados e o faz em tom jocoso, provocando ruidosas risadas. Dessa forma, debocha-se do que se deveria lamentar.

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