Chegança
Ocaso (poema para o meu avô)
Tinha o jardim,
tinha o quintal,
tinha o pomar,
tinha a casa avarandada
e tinha o dono da casa.
Havia os filhos,
havia os filhos dos filhos
e havia a dona da casa.
Tinha goiaba no pé,
tinha goiaba no tacho,
tinha goiaba no bucho
e tinha festa no almoço.
E houve outros amores,
e houve ouro e poder,
e houve a rédea na mão.
Mas houve a hora de ver
o ouro perder o brilho,
desmoronar-se o poder,
a rédea fugir da mão.
O filho se foi,
e foi-se a dona da casa
para o sono que não tem fim.
Como se foram amores,
credos, risos, frases, cores.
Cresceu capim no quintal,
não deu mais fruto o pomar,
o jardim flores não deu.
Resta a varanda da casa,
que é só o que faz sentido.
E resta o dono da casa,
agora velho e sofrido.
Afora as marcas no rosto,
afora as marcas na alma,
afora essa solidão.