Ìgbàsílè

Raízes

Vieram de Angola, do Congo, do porto de Uidá.
Vieram de São Lourenço, de Moçambique,
vieram de lá.

Multidão de cativos
que nem sequer falavam a mesma língua.
Vieram morrendo à míngua, bocas famintas,
amontoados na escuridão dos porões,
hábitos diferentes, distintas religiões.
De comum, a escravidão.
Vieram cavar o ouro, vieram sofrer no eito,
trazendo dentro do peito o jeito próprio de ser,
mantenedor das querenças, suporte de suas crenças.
Ironicamente os negreiros
davam nome de santo aos tumbeiros:
Nossa Senhora da Conceição, do Rosário, do Carmo, de Nazaré…
Na hora de navegar,
contornar Costa da Mina,
desafiar o capricho da maré,
os cativos clamavam por São José,
que os protegia em surdina.
Os tantos santos, porém, camuflavam divindades
nas tantas cumplicidades, nos rituais,
nas rezas, nos batuques, nas danças dominicais.

Vieram de Angola, do Congo, de São Lourenço,
De Moçambique, do porto de Uidá.
Para bem da verdade, jamais saíram de lá!

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