Divagações sobre o absurdo
O Correio
Tema: Guerra e paz
Edição: de 4 de novembro a 3 de dezembro de 2001
No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a guerra, em centímetros, derrota fragorosamente a paz. Ou seja, o verbete guerra ocupa 16,5 cm com suas definições, enquanto a paz se acomoda em apenas 6. A diferença justifica-se pelo fato de a guerra possuir múltiplas modalidades, catalogadas e definidas no dicionário: aberta, atômica, bacteriológica, biológica, civil, convencional, de extermínio, de movimento, de nervos, de posição, de trincheira, econômica, fria, global, limitada, localizada, nuclear, psicológica, química, revolucionária, santa. Já a paz não possui variantes. Põe-se em quietude e se dá por satisfeita.
A guerra movimenta; a paz aquieta. As torres gêmeas, por exemplo. Estavam lá. Arrogantes, vale ressaltar, mas pacíficas. Agora escombros, agitam todos os quadrantes. Talvez esteja aí a razão da eterna beligerância, que faz do mundo uma caldeira sempre prestes a explodir. É possível que o ser humano, em sua atávica inquietude, não deseje a paz. Com ela adviria o tédio. Com ele, a sensação de vazio. Comprovando-se essa hipótese, eu entenderia as razões pelas quais, desde que o mundo é mundo, as guerras proliferam.