Nas malhas da rede

O Correio
Tema:
Do papiro à informática
Edição:
de 16 a 30 de abril de 1999

Na década de 1970, Lauro de Oliveira Lima acreditava não tardar o surgimento de uma ampla rede de comunicação ultrarrápida, que colocaria imediatamente disponível quantidade variada de informações. Não demorou muito, o computador corroborou o vaticínio do autor de Mutações em educação segundo Mcluhan. A internet, associação mundial de redes de computadores, tornou a informação cada vez mais diversificada e acessível.

Existe, em Psicologia Social, o conceito de que ninguém informa ninguém, o indivíduo se informa. Não é paciente, mas agente. Partindo dessa premissa, nada mais compatível do que a máquina e o intelecto se inter-relacionarem. O saber planetário instantaneamente disponível democratiza o conhecimento, encurta distâncias, amplifica o saber. Entretanto o acesso restrito ao computador por uma minoria acaba elitizando o processo informativo.

Na internet, não cabe qualquer tipo de controle. O usuário tem a seu dispor a mais diversificada gama de informações, inclusive o chamado “lixo cultural”. Tanto pode acessar a celebração do Ângelus dominical, diretamente do Vaticano, como ocupar a tela com uma sessão de pedofilia.

Há quem acuse a rede de tornar as pessoas ansiosas. Por outro lado, existe quem a perceba capaz de diminuir a solidão e os estados depressivos. O psiquiatra Henrique Del Nero, por exemplo, detecta, por detrás do encantamento de navegar na telinha, um perigo iminente: a ansiedade informacional. Segundo ele, o indivíduo pode perceber-se diminuído perante tanta informação e deprimir-se. Já no entender da psicanalista Leny Mrech, quem apresenta tal distúrbio psicológico já o possuía anteriormente.

Os dois divergem em outro ponto: para Del Nero, o uso constante da internet pode causar alienação, intensificar a relação com a máquina em detrimento das relações humanas. Já Mrech crê na possibilidade do estabelecimento de vínculos pessoais estreitos e de relações afetivas. A ter razão o psiquiatra, navegar na rede implica riscos de se topar com icebergs e procelas. A psicanalista, por sua vez, mira-se no lema da Escola de Sagres: “Navegar é preciso!”.

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