Wanderlino Teixeira Leite Netto tem consciência da finitude, tema central deste livro. Porém tenta superar a dor da angústia que essa condição nos traz, continuando a fazer a poesia reflexiva que há muito cria com grande sensibilidade:
Virar semente, / germinar em certo instante, florescer mais adiante. // Já que não pode ser assim, planto versos no jardim. (Jardinagem).
(Lena Jesus Ponte)
Poesia – publicação na internet (2024)
Capa e projeto gráfico: Leonardo Barbosa
“De Pétalas e rimas”, a mais recente obra de Wanderlino T.L. Netto, vem a lume ratificar o lugar do autor no patamar dos grandes poetas brasileiros da modernidade.
Fiz uma leitura bastante prazerosa de seus versos livres, encadeados em elos rítmicos e embalados com rimas absolutas, isto é, não desnecessárias, como é comum ver-se por aí.
No todo, há um misto de nostalgia em pé de guerra com a inexorável realidade do cotidiano, cuja batalha revela-se a perpassar o corpo da obra. Quem será o vencedor?
Já no poema “Olhar pescador”, nota-se o rumo adotado pelo viajante das Letras (aliás, como assim em toda sua obra, quer em prosa ou em verso), cuja visão perscrutadora é microscópica ao lidar com análise, a princípio, e com a síntese em sua conclusão. Percebi, no bojo explícito (e implícito!) de seus versos, a maturidade no auge de seu labor poético. Assim, em “Poema onírico”, os sonhos reenergizam o sóbrio narrador durante sua vigília, potencializando em “Reencontro” a busca de si mesmo, a um tempo resiliente como em “Yin e Yang”, à mercê de “brisa leve e refém de vendavais” e, obviamente, em “No divã”, um querer ir e, em seguida, decidir-se por ficar, com versos como “Ouvir o Cavaleiro da Triste Figura”, mas “deixa-lo a sós / para enfrenta os meus moinhos”. Contudo, em momento de angústia , em “Cantiga de esperança” “os netos são a continuidade / novo ponto de partida”.
Interessante, aqui, retornar à ideia do olhar atento do poeta, em “Minudências”, onde “O detalhe não faz alarido / camufla-se no avesso do tecido”.
De qualquer forma, um poeta é, antes, um ser humano que se desvia, por contingências tantas, a confessar em seu “Acidente de percurso”: De repente, acende-se um rastilho / e o trem da coerência sai do trilho”, embora forças unam-se em favor de tudo em “Passado a limpo”: Quando se vislumbra a verdadeira curva da estrada / abaixe então a guarda, descarte mágoas, dissabores e rancores”.
Por estes e outros versos, e como a Poesia é necessária, “De Pétalas e Rimas” compreende uma obra inevitavelmente urgente, caso o leitor entenda que a boa literatura continua viva e que aqui está, com muito boa saúde, e que também não me deixa mentir.
Gratíssimo, Hilário, pelo excelente comentário, fruto de uma leitura atenta e competente das pétalas e das rimas que plantei pelo jardim. Grande abraço.